“Compra a verdade e não a vendas; sim, a
sabedoria, a instrução e a inteligência.”
— Provérbios 23:23
Introdução: Um dilema enganoso
Uma frase tem circulado em ambientes religiosos como um manto de compaixão:
“Prefiro estar com os simples que acreditam em heresias do que com os arrogantes que creem na verdade.”
À primeira vista, soa nobre. Afinal, quem deseja estar com arrogantes? Quem não se compadece dos simples? Mas, sob análise mais profunda, essa frase esconde uma dicotomia perigosa e antibíblica: ela opõe a verdade à humildade, como se fossem mutuamente excludentes. É uma escolha entre dois erros: a mentira piedosa e a verdade orgulhosa, como se fôssemos obrigados a escolher um deles.
Neste capítulo, vamos desmontar essa armadilha com os alicerces da Escritura, mostrar o perigo da aparência de piedade desvinculada da verdade, e restaurar a visão cristã: que o verdadeiro amor anda de mãos dadas com a verdade revelada.
1. O Evangelho não tolera a heresia, mesmo quando ela vem disfarçada de humildade
O apóstolo Paulo, em carta aos Gálatas, adverte com veemência:
“Mas, ainda que nós, ou um anjo do céu, vos anuncie outro evangelho além do que já vos pregamos, seja anátema.” (Gálatas 1:8)
Paulo não faz concessões. Ele não sugere que o mensageiro deva ser julgado pela sua aparência ou boas intenções. Ele foca no conteúdo: outro evangelho é maldito, não importa quão piedoso pareça seu pregador. A heresia, mesmo proclamada por um “irmãozinho simples”, é um vírus que adoece o corpo de Cristo.
Não estamos dizendo que todos os que creem em doutrinas erradas são hereges formais. Mas sim que a heresia nunca é inofensiva. E jamais deve ser tratada com indulgência em nome da humildade ou empatia.
2. A religiosidade intensa sem verdade é perigosa: o exemplo dos fariseus
Muitos que defendem a frase em questão acrescentam uma justificativa:
“Mas o irmãozinho é mais piedoso que eu… ora mais, jejua mais, evangeliza mais…”
Cristo lidou com pessoas exatamente assim: os fariseus. Eram intensos na oração, jejum e evangelização. Mas Jesus lhes disse:
“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Porque percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito; e, uma vez feito, o tornais filho do inferno duas vezes mais do que vós.” (Mateus 23:15)
Eles atravessavam terras para “converter” outros, mas os convertiam ao erro. Sua religiosidade, ao invés de ser instrumento de salvação, era multiplicadora de condenação. Isso mostra que o problema não era a dedicação em si, mas a base doutrinária em que se apoiavam. Eles estavam cegos — e eram guias de cegos.
A lição é clara: a piedade sem verdade é engano. E o engano ativo é ainda mais destrutivo do que a ignorância passiva.
3. Discernir entre os fracos na fé e os verdadeiros hereges
A Bíblia distingue entre dois tipos de pessoas no erro:
- Os irmãos fracos, mencionados em Romanos 14 — crentes sinceros, porém ignorantes em algumas áreas. A esses devemos acolher, ensinar e amar.
- Os hereges obstinados, descritos em Tito 3:10 — pessoas que, depois de admoestadas com paciência, rejeitam a correção e permanecem no erro. A esses, devemos evitar.
O cristão maduro sabe diferenciar esses dois. Mas jamais romantiza a heresia. O erro deve ser corrigido, nunca abraçado. Amar o irmão simples não é deixá-lo no engano, mas conduzi-lo à verdade.
4. Amor e verdade não são inimigos: são aliados inseparáveis
O amor verdadeiro não encobre o erro — confronta-o com graça. A verdade pura não deve ser arrogante — deve ser servida com mansidão. O crente não escolhe entre um ou outro. Ele busca os dois. A Palavra nos manda:
“Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos
em tudo naquele que é a cabeça, Cristo.”
(Efésios 4:15)
Não se trata de optar entre a verdade seca dos orgulhosos ou o erro carinhoso dos ignorantes. Trata-se de buscar a verdade com humildade e praticar o amor com discernimento.
Conclusão: A verdade salva — e deve ser amada acima das aparências
A piedade sem a verdade pode nos levar ao inferno com o coração emocionado e os olhos vendados. A verdade sem amor pode afastar os feridos. Mas a verdade com amor cura, corrige e salva.
Por isso, não repita frases populares sem passá-las pelo crivo da Escritura. Afirmar “prefiro estar com os simples que acreditam em heresias” é o mesmo que dizer: prefiro a companhia do erro simpático à correção desconfortável.
Cristo morreu pela verdade. Os apóstolos deram suas vidas por ela. Os reformadores enfrentaram a morte para defendê-la. E você? Vai vendê-la em nome da piedade aparente?
Compre a verdade. E não a venda.
Nem por amigos. Nem por simpatia. Nem por frases que soam bonitas, mas negam o
Evangelho.
Atividades sugeridas:
A Armadilha da Falsa Piedade
🎯 Objetivo: Discernir o erro da frase “prefiro estar com os simples que acreditam em heresias” e aplicar a verdade com amor.
1. Leitura e Reflexão Bíblica
- Passagens sugeridas:
- Gálatas 1:6–10
- Mateus 23:15
- João 8:31–32
- 2 Timóteo 2:24–26
- Romanos 14:1
Perguntas para discussão:
- Por que a heresia não deve ser tolerada, mesmo que professada por pessoas piedosas?
- Como podemos amar os fracos na fé sem condescender com o erro?
- Como distinguir uma atitude arrogante de uma correção amorosa?
2. Atividade de Autoexame (individual ou em duplas)
Instrução: Dê 5 minutos para cada participante refletir sobre esta pergunta:
“Já deixei de confrontar um erro doutrinário por medo de parecer arrogante?”
Depois, incentive que compartilhem em duplas o que aprenderam com isso.
3. Encenação Rápida (Teatro de Improviso)
Forme 2 grupos e peça que encenem:
- Grupo 1: Um crente piedoso, mas que está crendo em heresia, sendo confrontado com arrogância.
- Grupo 2: O mesmo crente sendo confrontado com amor e firmeza.
Depois, discutam:
Qual confronto foi mais fiel ao espírito de Efésios 4:15?
4. Oração Temática
Ore em grupo por:
- Humildade para corrigir com sabedoria.
- Discernimento para amar sem aprovar o erro.
- Força para manter a fidelidade à verdade.

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